quarta-feira, 27 de abril de 2011


Olá minha gente...

É com muita alegria que venho comunicar a conclusão de nossa viagem. Depois de 9 dias de muito esforço físico e muitas alegrias, chegou ao fim a nossa viagem. Mas tenho que relatar alguns acontecimentos que fizeram com que quase não terminássemos nosso caminho.

Na noite do dia 25 de abril, chegamos em Sta. Rosa de Viterbo-SP. Logo conseguimos um lugar para tomar banho. Foi na casa da Dona Maria de Lourdes, uma senhora que mora só e que por esse motivo disse que não poderia nos abrigar por aquela noite, mas que pela manhã esperava a gente para tomar um café da manhã. Hahaha.... muito linda a Dona Maria de Lourdes!

Após tomar banho e arrumar tudo, fomos comer uma pizza. Comemos bem, e assim que terminamos, o Rafa quis ver horário de ônibus de Rib. Preto para São Paulo. Estávamos no penúltimo dia de nossa viagem, faltavam apenas duas cidades (pouco mais de 60km) para concluir o caminho.

Chegamos na lan house e deixamos as bikes na porta, de uma forma que eu conseguia vê-las de onde estava sentado. Eu e Rafa, ambos estávamos no computador vendo nossos e-mails e etc. Eis que olho para fora e não vejo o pneu da minha bike. Fui conferir e no local onde deixei minha bike com toda a bagagem, roupas, comidas, equipamentos e etc. não tinha mais nada! Tinham roubado a minha bicicleta faltando 1 dia para concluir o trajeto. Depois de 8 dias ralando muito em estradas de terra, pedra, lama e etc. tudo tinha se perdido.

Entrei e avisei o Rafa que tinham roubado minha bike. O cara ficou doido. Saiu pedalando meio sem rumo tentando achar alguma coisa. Foi ai que tive a idéia de ligar para a polícia. Liguei e uma pessoa muito atenciosa me atendeu (Marçal). Expliquei toda a situação e em menos de 5 min. uma viatura veio ao nosso encontro. Tornei a explicar a situação aos policiais. O Cabo Baruco e o Soldado Antonio. Que falaram que iam fazer uma busca nas imediações e dariam um retorno assim que soubessem de algo. Nessa hora eu já tinha me consolado e já estava fazendo as contas prevendo o quanto poderia gastar para montar outra bicicleta. O Rafa ficou transtornado, parecia que tinha sido a bike dele que fora roubada e não a minha. Um fato engraçado: Uma senhora veio me perguntar o que tinha acontecido. E eu fui explicar toda a história para ela. O Rafa se irritou com as várias perguntas da senhora e começou a falar alto: AGORA ACABOU!!! NÃO TEM MAIS VIAGEM!!! AGORA A GENTE VAI PRA CASA!!! hahahahaha.... nunca tinha visto o Rafa assim. Pois quem o conhece sabe que ele é um cara sereno. hahahahahaha.... tô dando risada até agora com isso.

Enfim, tinha combinado com os policiais que a gente ficaria no posto de gasolina da cidade por ele ser 24hs e que provavelmente dormiríamos por la. Eu e Rafa fomos caminhando até o posto qye ficava há uns 100mts de onde estávamos, e vimos a viatura da polícia parada do outro lado da rua com uma pessoa presa no bando de trás. Fomos ver o que tinha acontecido e para nossa surpresa conseguiram prender a pessoa que tinha roubado minha bicicleta! hahahahahaha..... RECUPERAMOS A BICICLETA!!!! E TODA A MINHA BAGAGEM!!! hahahahahaha....

O Cabo Baruco disse que nós teríamos que ir à delegacia pois o suspeito ia ser preso e tínhamos que prestar queixa e etc. Concordei prontamente e fomos à delegacia para que tudo fosse feito. Chegando la fiquei frente à frente com o suspeito do roubo. Sinceramente fiquei com dó do rapaz. Depois de tanta coisa linda que vivemos nessa viagem, passar por uma situação tão constrangedora como essa me fez sentir mal. O pior é que aquela situação ia durar algumas horas.

O suspeito tinha histórico. No mesmo dia tinha invadido uma casa e se escondido debaixo da cama de uma menina de 7 ou 8 anos de idade. O que deixou a criança muito assustada e talvez traumatizada. Ele já era procurado pela polícia para prestar esclarecimentos quanto à esse fato. E agora estava sendo preso em flagrante pelo roubo da minha bicicleta.

Enquanto isso, eu, Rafa o Cabo Baruco e o Soldado Antonio ficamos conversando sobre nossa viagem e outras coisas. Ao fundo, o suspeito se lamentava:"ladrão não! isso não! roubar uma bicicleta? isso não! não sou ladrão!"... Repetiu a mesma frase por mais ou menos umas duas horas. Até que cansou e ficou quieto.

O Rafa agradeceu os policiais umas 20 vezes. Hahahaha.... eu também agradeci mais de uma vez. Mas o Rafa estava meio eufórico com tudo aquilo. E agradeceu, e abraçou, só não deu beijo porque eles não deixaram senão daria. hahahaha...

Fomos liberados da delegacia por volta de 02:40 da manhã. Tínhamos que acordar ás 06:00hs para concluir o caminho. Fomos empurrando as bikes até o posto 24H e por la dormimos dentro da barraca pela primeira vez um 9 dias. Estávamos exaustos!

Alguns fatos interessantes:

Quando chegamos em Estiva-MG encontramos com um grupo grande de ciclistas de São Carlos-SP que também faziam o Caminho da Fé. Inclusive entre eles estava um conhecido meu o Valter Farid que pertence ao Aces High Bikers, grupo que eu faço parte aqui em Sampa.

O Reginaldo, um cara muito gente fina e prestativo que era do grupo de São Carlos nos presenteou com um adesivo do Caminho da Fé. Deu um para mim e outro para o Rafa. E eu resolvi colar o adesivo que ganhei do Reginaldo na minha bicicleta...

Pois bem, voltando ao roubo: Enquanto eu dava as características da minha bicicleta aos policiais. O Rafa disse: " a bike dele tem um adesivo do Caminho da Fé"...

Depois conversando com o Soldado Antonio, o mesmo disse que só reconheceu a bicicleta por causa do adesivo. O suspeito já tinha tirado os alforjes e deixado a bike leve. Só com as garrafinhas no quadro. Então todas as características que eu tinha passado em relação às bagagens, alforjes e etc. já não existiam mais. Porém o adesivo do Caminho da Fé continuava lá, e fez com que os policiais a reconhecessem. Bendita Nossa Senhora, Bendito Reginaldo, Bendito Cabo Baruco e Soldado Antonio!!!

Devemos entre tantas outras pessoas que nos ajudaram, à vocês o sucesso de nossa viagem!

No último dia de pedal (Sta. Rosa - São Simão - Cravinhos) fui pedalando e chorando o caminho inteiro. Eu sou um cara emotivo, e comecei a lembrar tudo o que tínhamos passado durante à viagem. As dificuldades, as dores multiplas no corpo, as incertezas (pelo fato de decidir fazer uma viagem sem saber onde íamos dormir e tomar banho, deixando tudo por conta do acaso. Feliz escolha!), as pessoas maravilhosas que conhecemos, as histórias e lições de vida que aprendemos em cada cidade que passamos, a solidariedade das pessoas para conosco, o carinho e a admiração das pessoas que ou nos acham loucos ou acham demais nossa atitude... estava muito emocionado. Pedalava e chorava sem parar.

Terminamos a viagem ás 18:05hs quando chegamos à igreja de Santa Luzia. Local onde começa o Caminho da Fé em Cravinhos-SP. Mas como fizemos de trás para frente, ali era pra gente o fim de nossa missão.

O Caminho da Fé mostrou como temos que ser humildes para conquistá-lo. Encontramos pessoas que fazem o mesmo caminho todo ano. Outras que já fizeram a pé, de bike ou de cavalo. Da muita vontade de fazer novamente o Caminho, só para reencontrar as pessoas tão especiais que conhecemos. E de preferência levar um presente para cada uma delas. Acho que isso entra para os planos futuros... hehehe.

Obrigado à todos que nos ajudaram, que postaram comentários. Cada um de vocês foi muito importante para a nossa trajetória. Tomara que eu e Rafa temos conseguido deixar ai com vocês um pouco de nossa alegria e vontade de viver. E inspirado vocês a fazerem coisas desse tipo. Enfrentar o desconhecido da medo, mas o resultado pode ser surpreendente e maravilhoso!

Um grande beijo à todos vocês,

Lucas e Rafa.

Anjos do dia:

Ao Cortador de Cana que provavelmente nunca conhecerei: por ter jogado pela janela do ônibus meio pacote de bolacha de maizena para mim e Rafa enquanto estávamos perdido nos canaviais. Amigo Cortador, aquelas bolachas, foi o combustivel para que chegássemos em Rib. Preto e poder pegar o ônibus de volta para casa. Muito obrigado de coração.

À Dona Maria de Lourdes: Pelo banho, pelo café da manhã e pela sinceridade de falar em nossa cara que não podia nos abrigar pelo fato de ser uma senhora que mora só. Entendemos perfeitamente e por isso voltamos para tomar café com a senhora. Obrigado por tudo.

E finalmente aos policiais: Cabo Baruco e Soldado Antonio: Vocês permitiram que nossos planos não fossem por água abaixo. Vocês fizeram com que todo um momento de frustração se transformasse em euforia. Obrigado de coração por toda a simpatia e prestatividade. Por todas as conversas e risadas enquanto esperávamos toda a burocracia de uma delegacia. Por todo o empenho de vocês para recuperar os meus pertences.

Nós sempre vemos pela TV casos de policiais corruptos, e a partir disso vamos deformando nossa opinião quanto à polícia. Realmente amigos, a televisão deforma a vida das pessoas! Foi a primeira vez que precisei do trabalho da polícia e fui muito bem atendido além de obter êxito.

Na polícia existe sim policiais corruptos e corrompidos. Assim como em todas as áreas de trabalho seja ele público ou não. Porém sempre existem aqueles que fazem seu papel de forma limpa e honesta. Cabo Baruco e Soldado Antonio de Sta. Rita de Viterbo-SP são essas pessoas.

Até qualquer dia!

P.S.: Fico devendo aqui a foto que tiramos com o Baruco e o Antonio. Estou com problemas no memory card. Mas logo postarei.

3 comentários:

  1. PARABÉNS!!!! Só que vai a luta sabe.Humildade é isso,crer que pode e agradecer.Eu fico em festa meu!

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  2. Rafa e Lucas,

    Bom, é muita coisa que vem de dentro de mim querendo sair, vou tentar organizar os pensamentos pra falar.

    Primeiro quero dizer que to muito feliz por vcs, por mais essa realização, por mais esse crescimento físico, mental, espiritual, emocional...Pelos momeentos de construção coletiva junto a outras almas que tiveram seus lugares durante o caminho. Tenho certeza de que essa experiência vai ficar guardada com um forte valor em vcs, e q vcs vao querer contar muito essa história com orgulho por aí, se bem conheço e acho que devem compartilhar esses momentos mesmo, esses momentos em que a força da vida fala tão alto.

    Bom, sobre esse fato da bicicleta: imagino o desespero que deve ter dado, imagino tudo que veio na cabeça na hora, ainda mais o miq, q é tão ligado à bicicleta e enfim, essas coisas q vcs sabem. Mas essa história toca em pontos mais profundos. Essa pessoa que vocês chamam de "suspeito" (eu sei que não foi no sentido pejorativo, mas reflete um pouco a desumanização que as vezes fazemos com as pessoas) teve e tem uma vida. Tem uma história, por mais dura e sofrida que possa ter sido. Os gritos de “ladrão não! Eu não sou ladrão! Uma bicicleta?? Eu não sou ladrão!!” ficam soando alto pra mim. Talvez isso tenha a ver de ele de fato não se reconhecer nesse lugar de “vilão da história” em que colocamos ele (ele não só como AQUELA PESSOA específica, mas ele representando as tantas histórias parecidas que sofrem pessoas que possuem origem semelhante ou sofrimentos semelhantes marcados nas costas).

    Então eu fico pensando: e se, em vez de vocês, fosse a história dele que estivesse sendo contada? Como se o filme não fosse sobre as pedaladas de vcs e a vida que encontraram pelo caminho, de tanta humildade e simplicidade? Se o filme fosse sobre as lutas e contradições que vive uma pessoa? Sobre o lado não tão bonito da vida, dessa vida, dessa realidade? Um filme sobre a história daquele homem... No momento em que ele achou a bicicleta, em vez de ser o momento de desespero e apreensão da trama, seria o momento de exaltação, de adrenalina...O momento em que os policiais o pegaram, não seria o final feliz do filme, mas o momento de desespero.

    A intenção dessa mensagem não é dizer que “ah, tadinho, era bonzinho..!”, mas sim de pensarmos um pouco com que olhos costumamos ver as coisas, se nossa visão tem sido unilateral ou consegue abranger algo mais próximo da totalidade...Em que medida temos conseguido ver além de nossos olhos, NOSSOS interesses, nosso nosso nosso...nós..eus.

    Fico imaginando também se vcs não tivessem achado a bicicleta. Seria mesmo um : “agora tudo acabou?”...Tudo ali vivido teria sido em vão??Tenho certeza de que vcs não entenderiam assim, mas é bom pensar sobre. Os motivos das mais fortes emoções não foi aquele sumiço de bicicleta, mas o contato com a vida e com a delicadeza e grandeza que há nas pessoas e no relacionar-se.

    Conheço bem vocês dois e sei as pessoas maravilhosas que são...longe de questionar isso...mas tem coisas que a gente não pode deixar de pontuar...ficaria com isso guardado...e acho que sempre alguma coisa dá pra tirar qd a gente fala da alma...um beijo grande...dadá

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